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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

EU NÃO SEI O QUE A GENTE É. MAS A GENTE É ALGUMA COISA.

FOTO: RIVERDALE 
[ouça enquanto lê:Vanessa Da Mata - Vermelho

Seu beijo escapa pelo lado direto e segue caminhando desenvolvendo um poema bem no meio das minhas marcas de nascença entre o maxilar e o pescoço. Seu toque arrepia, queima, acalma e transcende e também deixa uma insegurança implantada em algum lugar aqui. Me moderam e ao mesmo tempo me tiraram de mim. Me sobrepõem. Me transcendem.

Teus sussurros parecem recitar uma poesia mesmo quando são apenas suspiros e aos poucos me despem; me clamam; me pegam; me fazem sentir vivo. Lembro que sou humano e que também posso pecar — você também pode? Tudo bem.

Recebo mais um beijo. Me contorço, contrário mas não me esquivo. Busco palavras por todo o canto pra dizer que isso não é um jogo, e se for não tenho nenhum plano de contra-ataque então estou a sua mercê, mas nada encontro. Entendo que nada precisa ser dito. Não ali. O que houve ali era só pra ser sentido. Então eu te senti.

O seu sorriso tímido me fazem fixar os olhos em você e memorizar cada movimento seu pra depois retroceder as cenas e pensar na gente o dia inteiro e me convida pra entrar e as covinhas que vieram acompanhadas com ele pareciam acenar pra mim. Você me fala um pouco sobre como a vida é estranha pra você e como você é estranho pra vida.

Você me conta quase tudo sobre a sua vida e eu prefiro não falar muito sobre a minha. Me conta como seus últimos encontros foram um desastre, e quando sorri depois de cada frase percebo a sua sensibilidade e entendo que você transforma experiências ruins e bons aprendizados. Entendo também que não quero ser nenhum dos dois. Nem um encontro ruim nem só um aprendizado.

Digo como gostei dos seus cabelos e sua mão parece ir sozinha em direção a minha e nossos dedos se encaixam como peças únicas de um quebra cabeça nada complicado pra nós. Você me abraça com seus braços longos e me sinto preso. Não no sentido ruim, me sinto amarrado a você e não quero mais soltar. Você coloca a cabeça sob o meu peito e comenta sobre como o meu coração está acelerado, sorrio e penso: “é por você”. Sei que às vezes me escondo sob uma casca grossa, mas se você quiser entrar prometo que te deixo ficar. Mas só tente entrar se for mesmo querer ficar.

Você, com toda essa mudança me convida pra uma dança e depois me diz que isso é a vida. Me puxa pra uma corda bamba que não bambeia com você nela, entendo que assim seria a vida com você. Você, que chega com toda essa mudança e me faz querer mais ainda viver aquele clichê que eu sempre quis viver.

Um feche de luz de um poste da rua atravessa os galhos de uma arvore e chega até você, te fotografo com os olhos e guardo em memória pra ficar revivendo nós dois mais tarde. Meu dedo anelar começa a dançar sozinho e precisei fechar a mão pra que ele não se soltasse de mim e fosse dançar frevo na rua. Senti a ponta do dedão do pé, uns sete ossos da minha costela e ouvi perfeitamente o barulhos dos meus dedos penteando cada fio do seu cabelo. Ouvi a minha própria respiração ofegante e o barulho do seu dedo desenhando um coração no vidro do carro parecia uma orquestra sinfônica daquelas que são encomendadas pra uma cena de suspense que você precisa se segurar na cadeira do cinema. Então arrisco escrever as nossas iniciais dentro do coração e você sorri como se estivesse concordando que dali pra frente seria só nós dois.

Eu ainda não sei o que a gente é. Mas a gente é alguma coisa.

Bruno Figueredo

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